Archive for fevereiro 2011






Maciel de Aguiar,quando foi que voçê viu o Mestre Teodorinho Trinca-Ferro?
A primeira vez em que vi mestre Teodorinho Trinca-Ferro foi em meados de abril de 1978, e o encontro havia sido preparado por Zoroastro Valeriano Rodrigues, o "Soberano Imperador da Mauritânia", mestre da Marujada e morador na localidade conhecida como Droga, no sertão de São Mateus. Veio o recado: "O véio tá esperando o sinhozinho pra falar sobre a Capoeira Angola". Mas, para chegar ao local onde mestre Teodorinho vivia, era necessário o auxílio de um guia, a região havia sido ocupada por uma empresa reflorestadora que destruiu toda a mata para o plantio de eucaliptos, deixando ilhada a pequena gleba do mestre da capoeira, com sua casinha de palha, um roçado de milho, feijão e mandioca, umas poucas árvores e as criações soltas.

No dia marcado chegamos - acompanhados do mestre Zoroastro e outro conhecedor da região, de nome Agenor Evangelista-, depois de quase uma hora de viagem do centro da cidade de São Mateus, passando-se a maior parte desse tempo dentro das imensas "avenidas" de eucaliptos, sem que sentíssemos a presença de nenhum pássaro. "Não há mais bicho algum, nada sobrevive aqui, mataram tudo, acho que nem mesmo as cobras resistem, pois não tem nada pra elas comer", lamentava Zoroastro Valeriano durante a viagem. A empresa reflorestadora havia "comprado" aquelas terras dos negros utilizando um tenente do Exército Brasileiro, de nome Merçom, que, fardado e num jipe do Exército, ameaçava os pequenos proprietários, obrigando-os a vender suas terras, em plena vigência do regime da Ditadura Militar que se implantou no país após o golpe de 1964.

Chegamos à porteira da pequena propriedade do legendário mestre Teodorinho Trinca-Ferro e, de pronto, avistamos aquele negro alto, de mais de um século, e no cabo da enxada, na preparação da terra para o plantio de umas mandibas de mandioca, "pra continuar sobrevivendo, até o dia em que Deus quiser, meu sinhô" - recebeu-nos com prazer e cordialidade.

Após prosear durante uma meia hora com Zoroastro e Agenor (não se viam há mais de trinta anos), iniciamos a conversa sobre a Capoeira Angola. Teodorinho, ainda com a agilidade que aquele século de existência não conseguira acabar, contou passagens de sua vida e depois balançou o corpo na ginga do jogo da capoeira, querendo de imediato demonstrar como eram os golpes: as mãos sempre espalmadas, os braços longos em movimentos ora de fora para dentro ora de dentro para fora, a malícia, a destreza surpreendente para os seus cem anos, o movimento sincronizado do corpo e a flexibilidade das velhas articulações foram coisas que vi ali, me impressionaram e nunca pude esquecer. Chamou Agenor para a luta, enquanto Zoroastro marcava a cadência com as palmas das mãos.

Agenor Evangelista, que tinha metade da idade do mestre, estava frente a frente com o lendário capoeirista Teodorinho Trinca-Ferro, há décadas temido pela precisão de seus golpes. Sem conhecer os segredos da luta, Agenor quase foi ao chão, pelo golpe de uma Meia Lua - rasteira indefensável para quem desconhece as artimanhas da capoeira.

Após aquela pequena exibição, Teodorinho quis deixar claro para seus visitantes que "capoeira é pra valer e não pra brincar, não é pra demonstração, isso é coisa de gente que quer acabar com a capoeira, gente que não sabe nada desse assunto, que vive se mostrando nas praças como num teatro. Capoeira Angola não é pra isso, Capoeira Angola é pra defesa e ataque, quem pode mais chora menos, não tem brincadeira não, essa capoeira de brincadeira é pra quem não tem o que fazer, não sabe nada de capoeira. Se alguém me chamasse para um jogo, sabia que, se descuidasse, podia até morrer, não tinha brincadeira não, se descuidasse levava uma Chapa de Frente no meio dos peito, uma Cabeçada ou um Rabo-de-Arraia. Se o freguês não tivesse preparo, podia ir parar no fundo da cova" - afirmava, convicto.

O século de existência não havia tirado daquele velho capoeirista o principal fundamento da capoeira: o espírito da luta. E esse fundamento vinha da África distante, trazido nos porões dos navios como arma de defesa e ataque indispensável à sobrevivência dos escravos que iam enfrentar um inimigo feroz e implacável: o sistema escravocrata que se implantara no Brasil de então.

O mestre Teodorinho trazia a mesma disposição dos anos em que desafiara os feitores, jogava capoeira desde os dez anos e aprendera com os "preto velho, principalmente os escravos fugidos que se escondiam nas matas". Lembrava-se de algum deles, "gente que enfrentava a Força do Governo e o capitão-do-mato com os golpes da Capoeira Angola, e que também tinham o corpo fechado na Cabula".

Rememorava o mestre seu tempo de menino alforriado pela Lei do Ventre Livre, mas que nunca havia conhecido a mãe e o pai, acrescentando que, desde que se entendeu "por gente, vivia pelo mato, com os bandos dos negros fugidos, rapazola ainda", dizia. Dos antigos jogadores de Capoeira Angola, que aprenderam a lutar para se defender dos inimigos, recordava-se de alguns, cujas reminiscências transformavam-se em causos que só sua memória privilegiada podia resgatar: "Os mestres mesmo eram os velhos africanos, que nunca chegaram a vim pro Brasil, mas, aqui, os que me ensinaram os golpe da Capoeira Angola foram os escravos Zé Pequeno, Boca Preta, Mão de Onça, Calango, Dez Pedaços, Hilário Braúna, Jacaré, João Quebra Coco, Negro Saci, Manoel Mata Onça, Corre Diabo e Clementino Coice de Mula", lembrava o mestre.

Dentre os escravos que conheceu, "pelo mato, enfrentando o capitão e a Força", falava especialmente de Zé Pequeno, Dez Pedaços, Corre Diabo e Negro Saci como sendo os seus "professores". Levou "muita surra" para aprender os fundamentos e se livrar dos golpes mortais da capoeira, mas dizia que nenhum daqueles capoeiristas foi maior que Hilário Braúna ou Manoel Mata Onça: "Pra esses dois não tinha arma de fogo que desse jeito, quando vinham pra cima dos soldado arrebentavam tudo, nada ficava de pé, eles tinham a força do estampido do trovão, saíam arrancando pedaço de pau, com seus golpes de pé e mão no meio da mata, que dava medo", afirmava, ilustrando dois casos que marcaram sua adolescência.

Contou que, em certa ocasião, "o negro Hilário Braúna foi emboscado pela Força, na mata, do outro lado do Mucuri, tinha uns trinta soldados comandados pelo capitão-do-mato de nome Cearense. Quando Hilário atravessou o rio a nado, foi recebido a tiro pela Força, que não deixava ele sair de dentro da água barrenta do rio, mas ele mergulhou e vazou longe, rodou por trás e pegou a Força pela retaguarda, derrubou uma dúzia de soldado na perna, arrebentando o peito e os ossos deles na escuridão da noite; o que pôde fugir teve que cair no rio, até que uns ficaram estirados, moídos pelos golpes da Capoeira Angola, sem que o negro Hilário Braúna tivesse sofrido ao menos um arranhão. O Cearense havia jurado a morte dele, mas, antes da Abolição, morreu no Quilombo de Sant'Ana, na luta com Negro Rugério, e Hilário morreu de velho, na mata, muitos anos depois".

Mas o causo que ficou conhecido até os nossos dias foi o de Manoel Serafim, o Manoel Mata Onça, um escravo da fazenda de dona Rita Cunha. "Tinha quase dois metros de altura, era um negro muito forte e só andava pela mata, de noite, feito bicho, até que um dia, lá pras bandas da Aricanga, enfrentou duas onças pintadas; os bichos partiram pra cima do negro, Manoel enfrentou os animais na perna e na mão, foi matando um por um no golpe da capoeira. Dizem que, depois de mortos, amarrou um em cima do outro numa zorra e puxou até onde vivia uns negros escondidos. Depois, comeram a carne dos bichos num assado", contava o velho Teodorinho.

Admitia que aprendera mesmo capoeira com Zé Pequeno, Dez Pedaços, Corre Diabo e Negro Saci, e dizia que, "ainda molecote, tinha que enfrentar de vez em quando os professores, na luta pra valer", chegando a "apanhar de ficar moído no chão, quase morto", mas sabia que aquele ensinamento, aquelas lições, representavam a sua sobrevivência frente o inimigo.

Teodorinho dizia, com um misto de satisfação e mágoa, que nunca tinha sido escravo, não tinha sofrido a dor do padecimento dos ferro e nem a humilhação na praça do Porto, nunca tinha levado um açoite dos feitores, e que, "quando deu por si, já era um rapazola, no mato, junto com os negros fugidos". Mas tinha aprendido a Capoeira Angola com os mestres daquela luta e sabia que seria preciso passar aquele aprendizado para os negros mais jovens para que, também eles, pudessem livrar-se dos inimigos e "se defender dos escapulos" - situações inesperadas e de difícil defesa.

Dizia que havia cumprido sua missão, formara muitos capoeiras, gente que, por sua vez, formou outros tantos pelos anos que se seguiram; lembrava-se de alguns dos seus meninos, "que vinham pra cima para arrancar a cabeça do adversário, nunca queriam perder, tinham o sangue do velho capoeira, sangue do negro angola, gente que sabia que tinha uma arma na mão, na cabeça e no pé", falava.

Dos meninos que aprenderam com ele a Capoeira Angola, lembrava-se de alguns nomes: Afonsinho Brandino (o Vira Tora), Cisplatino Curió, Pelo Avesso, Otávio Buscapé, Balbino Andreza (o Vagalume), Coração de Seda, João Ferro Velho, Serafim dos Santos, Mateuzinho da Hora, Benedito Gonçalo (o Cana Brava), João Geraldino, Binote Valeriano, Clementino Alexandre (o Tromba D'água), Arildo Serafim, Zé Apolinário, Ambrósio da Conceição, Benedito Alexandre e Lorenço dos Anjos (o Estica Couro).

Desses meninos que jogavam a Capoeira Angola, "com o sentido na verdadeira capoeira", relembrava casos de muitas lutas no Porto de São Mateus, "quando iam pra lá arranjar emprego de carregador e acabava se metendo em encrenca com a polícia". Naquele tempo o Porto era dominado pelos grandes comerciantes de farinha de mandioca, café e madeira. Mas nunca nenhum deles "fugiu da briga, mesmo que fosse pra enfrentar arma de fogo, não era pra correr do estanho, tinha que desviar da bala; se o tiro fosse de mosquetão, tinha que desviar do chumbo, mas não podia correr, não podia ter medo, tinha que quebrar o inimigo na perna, na cabeçada ou no cutelo", garantia o mestre.

Lamentava a morte, "covarde", de alguns de seus meninos, como o "caso da morte de Pelo Avesso, ele tava batendo em dois polícia e um terceiro atirou pelas costas, na covardia, sabia que, de frente, eles não iam aguentar com Pelo Avesso, que ganhou esse apelido por dizer sempre que ia virar o inimigo pelo avesso". Lembrava que esse caso se seu pelo fato "de um polícia ter dado uma surra numa criança que tinha roubado uma manga num quintal da rua dos Ricos, era só uma fruta pra matar a fome do menino, mas o polícia pegou o menino e bateu que dava pena; foi quando avisaram a Pelo Avesso, que já veio rebentando os polícia, derrubou dois na perna e um outro atirou pelas costas", contou o mestre.

Dizia que, após a Abolição, os negros ficaram "ainda mais sujeito a apanhar dos soldados e dos capangas dos senhores, muitos tinham medo de reagir, apanhavam feito boi teimoso, mas quando era um capoeira a coisa ficava diferente; muitos que levantaram a mão pra bater num capoeira nunca mais viram a luz do dia, receberam um golpe mortal que não dava tempo dele pensar duas vezes, caíam no chão, estribuchando.

Dos seus meninos, recordava de Otávio Buscapé, Coração de Seda, Serafim dos Santos, Benedito Gonçalo (o Cana Brava), e o "mais valente deles todos era Zé Apolinário, um negro fino, de quase dois metros de altura, batia com uma violência que dava medo, era angico, não tinha carne, mas coitado do seu inimigo, era cada pancada que desmontava qualquer um, tinha a perna comprida e alcançava o inimigo distante, tinha uma cabeçada que podia derrubar um boi; era um grande lutador de Capoeira Angola, conhecia a ginga e a malícia como ninguém", lembrava.

Recordava-se, ainda, com muita ternura, de outros meninos, como Coração de Seda, que era "um negro muito grande e pesado, andava feito tamanduá-bandeira, o braço aberto, parecia um moleirão, mas tinha uma força muito grande, onde encostasse a mão voava o pedaço, era feito um coice; no jogo da capoeira era meio pesado, mas aceitava o desafio com qualquer um, na briga no Porto, onde vivia enrabichado com uma moça-dama. Era de muita coragem. Chegou uma noite em que ele quase destruiu um cabaré, ninguém conseguiu levar o Coração de Seda pra cadeia, só depois que deram vários tiros na perna dele é que conseguiram amarrar com laço de couro e saíram puxando seu corpo pelas ruas até a Cadeia Velha", na Cidade Alta, contou o mestre.

Após a Abolição, informava o mestre Teodorinho Trinca-Ferro, os negros que conheciam a Capoeira Angola não se sujeitavam a "apanhar da polícia pelo meio da rua", revidavam as agressões com golpes mortais, e muitos casos de morte violenta foram presenciados pelo mestre, tendo sido, ele próprio, personagem de um caso ocorrido numa noite de Festa de São Benedito. "Quando terminou a procissão, o Baile de Congo tava cantando na porta da igreja de São Bino, quando um soldado mandou parar tudo que já era tarde da noite, os brancos tinham que dormir e os negros tavam fazendo muito zoada". Mas ele e outros jogadores de Capoeira Angola disseram que "era dia de festa e que a escravidão já tinha passado", e fizeram o Baile continuar.

Mais tarde, apareceram outros três policiais, cada um com arma na cintura e porrete, "foram chegando e metendo o pau nas pessoas, tinha menino, velho, mulher, congo", quando ele tomou as dores e a frente da situação: "Foi briga violenta, até que os polícia ficaram no chão, moído na pancada", lembrou Teodorinho.

O Delegado de Polícia mandou vir de Vitória um novo contingente, "uns trinta homens para acabar de vez com aquela história" de que capoeira era imbatível, e começaram a procurar pelo mestre Teodorinho por toda parte da cidade. Logo que foi informado de que o Delegado "ia acabar com a raça dos capoeiras", juntou uns vinte meninos e mandou dizer a ele que estava esperando, naquela noite, no Largo do Chafariz, no Porto.

Nessa época, no início do século, a iluminação pública era feita a lampiões a querosene, e, quando a tropa chegou ao Largo do Chafariz, "os lampião foram apagado, os soldado começaram a atirar na sombra, atiravam no escuro, um tiroteio danado, mas que não acertava ninguém; uma meia hora depois, já não tinham mais munição e foi aí que nóis entramos e moemos eles de pancada; uns caíram nágua, outros subiram a ladeira mancando, mas a maioria ficou estirada no chão: batemos neles pra eles nunca mais se atrever a impedir o Baile de Congo na porta da igreja de São Bino e nem achar que o cativeiro ainda existia", contou o velho capoeirista.

Depois disso, mestre Teodorinho tomou os rumos do Sapé do Norte, caiu nos matos com seus companheiros. Vez por outra um aparecia na cidade, "pra compra fumo, sal, pólvora, tecido, mas viver lá não era mais possível, ia ser briga na certa, cada vez mais vinha um número maior de polícia, nóis tinha de vencer ou morrer; esperamos eles no mato, mas nada aconteceu, até nunca mais ser preciso, mas nunca perdemos uma briga, sempre soubemos da hora certa e como atacar o inimigo; eles pensavam que nóis tava correndo, mas era pura malícia, mandinga, chamando eles pro nosso terreiro; agora tô muito velho, mais de cem anos, mas mesmo assim bato a Capoeira Angola com os menino que costumam andar por aqui, sempre na vera, quem pode mais chora menos", dizia o mestre.

Teodorinho falava da Capoeira Angola como parte de sua vida - "do golpe que deixava o inimigo estribuchando" -, ainda com gestos rápidos, as mãos sempre espalmadas, os braços em movimentos cadenciados ora para dentro ora para fora, "pra confundir o adversário". A ginga do corpo ainda refletia grande equilíbrio, mostrando como arrancar uma faca, um pau ou um revólver da mão do adversário, sempre com muita suavidade, parecendo ainda um bailarino de ébano do longe de cento e poucos anos, parecendo ainda um menino, "é a capoeira que faz isso, e deixa a gente pronto pra luta", falava, balançando o corpo no terreiro da casa.

Vez por outra, parava para explicar os golpes: "A Meia Lua é um golpe em que o jogador rodopia com a perna no ar, podendo acertar o inimigo em qualquer parte do corpo, e, pra se defender, basta dar uma descida no corpo e partir pro ataque com um Rabo-de-Arraia, que é um golpe aplicado no jogo de baixo, como uma chicotada, procurando atingir a cabeça do inimigo com o lado do pé; mas, pra se defender, é preciso abaixar a cabeça pra contra-atacar, com um golpe conhecido como Calcanhar, pegando o adversário de baixo pra cima".

Em movimentos às vezes lentos, "pelo peso da idade", o velho mestre ia demonstrando os golpes. Mas seu golpe preferido era a Chapa de Frente, "um golpe violento, derrubava o inimigo na facilidade", muitos morreram com traumatismo, era um golpe que se aplicava em qualquer parte do corpo, dependendo da distância e da posição do adversário. "Depois vinha a Chapa de Costas, que se aplicava de costa pro inimigo quando este pensava que o capoeira tivesse indo embora; e, pra se defender da Chapa, bastava ir afastando o corpo e voltar ao ataque com uma Cabeçada, que era um golpe dado com a cabeça no peito, no rosto ou no queixo do inimigo, de baixo pra cima; pra terminar o serviço, ainda pode aplicar uma cutelada na nuca do inimigo", demostrava com gestos precisos.

O mestre Teodorinho Trinca-Ferro vivia ali, no meio daquela floresta de eucaliptos, havia perdido todos os vizinhos, "que foram obrigado a vender suas terra pra empresa reflorestadora". Há mais de trinta anos, não ia ao Porto de São Mateus: ainda tinha o pressentimento de que "a polícia tava lá esperando, e já não tinha mais idade de correr da polícia, não ia ficar bem", disse ele.

Os gestos de um lutador, a impressionante flexibilidade das articulações, as mãos imensas, os braços em movimentos cadenciados, os movimentos ora lentos, quase parando, ora rápidos, surpreendentes, faziam Teodorinho parecer um pássaro, um pássaro negro, parado no ar em busca de sua presa.

- Na vera, que a Capoeira Angola não era pra brincadeira, era arma de luta contra qualquer inimigo, afirmava.

O mestre Teodorinho Trinca-Ferro era o último guerreiro da Capoeira Angola.

Fonte : Maciel de Aguiar

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Mestre Auricélio (CE), Mestre Rato (CE) , Mestre Maizena (CE)


Mestre Rato (CE) e Mestre Maizena (CE)
 No   2º Encontro o Perfil do Mestre evento promovido pelo Mestre Rato (Grupo Água de Beber), com a participação do Mestre Maizena ( A.C.A.P.O.E.I.R.A.),Mestre Auricélio (Grupo Terreiro), e outros.Os temas básicos foram;


A HISTORIA DO MESTRE NO CENÁRIO DA CIDADE(FORTALEZA)

A CAPOEIRA NOS DIAS DE HOJE,

GRADUAÇÃO E FORMAÇÃO NOS DIAS DE HOJE( FORMATURAS ETC...)

Esta é mais uma prova que os capoeiristas estão trabalhando em prol da entidade CAPOERIA.Que o debate seja um sucesso.

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Na cidade de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, cidade marcada pelo verde dos canaviais, é terra rica em manifestações da cultura popular de herança africana. Berço da capoeira baiana, foi também o palco de surgimento do Maculelê, dança de forte expressão dramática, destinada a participantes do sexo masculino, que dançam em grupo, batendo as grimas (bastões) ao ritmo dos atabaques e ao som de cânticos em dialetos africanos ou em linguagem popular. Era o ponto alto dos folguedos populares, nas celebrações profanas locais, comemorativas do dia de Nossa Senhora da Purificação (2 de fevereiro), a santa padroeira da cidade. Dentre todos os folguedos de Santo Amaro, o Maculelê era o mais contagiante, pelo ritmo vibrante e riqueza de cores.

Sua origem, porém, como aliás ocorre em relação a todas as manifestações folclóricas de matriz africana, é obscura e desconhecida. Acredita-se que seja um ato popular de origem africana que teria florescido no século XVIII nos canaviais de Santo Amaro, e que passara a integrar as comemorações locais. Há quem sustente, no entanto, que o Maculelê tem também raízes indígenas, sendo então de origem afro-indígena.

Conta a lenda que a encenação do Maculelê baseia-se em um episódio épico ocorrido numa aldeia primitiva do reino de Iorubá, em que, certa vez, saíram todos juntos os guerreiros para caçar, permanecendo na aldeia apenas uns poucos homens, na maioria idosos, junto das mulheres e crianças. Disso aproveitou-se uma tribo inimiga para atacar, com maior número de guerreiros. Os homens remanescentes da aldeia, liderados pelo guerreiro de nome Maculelê, teriam então se armado de curtos bastões de pau e enfrentado os invasores, demonstrando tanta coragem que conseguiram pô-los em debandada. Quando retornaram os outros guerreiros, tomaram conhecimento do ocorrido e promoveram grande festa, na qual Maculelê e seus companheiros demonstraram a forma pela qual combateram os invasores. O episódio passou então a ser comemorado freqüentemente pelos membros da tribo, enriquecido com música característica e movimentos corporais peculiares. A dança seria assim uma homenagem à coragem daqueles bravos guerreiros.

No início deste século (o XX), com a morte dos grandes mestres do Maculelê de Santo Amaro da Purificação, o folguedo deixou de constar, por muitos anos, das festas da padroeira. Até que, em 1943, apareceu um novo mestre – Paulino Aluísio de Andrade, conhecido como Popó do Maculelê, considerado por muitos como o “pai do Maculelê no brasil”. mestre Popó reuniu parentes e amigos, a quem ensinou a dança, baseando-se em suas lembranças, pretendendo incluí-la novamente nas festas religiosas locais. Formou um grupo, o “Conjunto de Maculelê de Santo Amaro”, que ficou muito conhecido.

É nos estudos desenvolvidos por Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações de que o Maculelê seria um fragmento do Cucumbi, dança dramática em que os negros batiam roletes de madeira, acompanhados por cantos. Luís da Câmara Cascudo, em seu “Dicionário do folclore Brasileiro”, aponta a semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambiques.

Hoje em dia, o Maculelê se encontra integrado na relação de atividades folclóricas brasileiras e é freqüentemente apresentado nas exibições de grupos de capoeira, grupos folclóricos, colégios e universidades.

“Deve-se reconhecer que não só o Maculelê mas todas as demais manifestações populares vivas ficam sempre muito expostas a modificações ao longo do tempo e com o passar dos anos. (...) Entendo que todas essas modificações devam ficar registradas, para permitir que os pesquisadores, no futuro, possam estudar as transformações sofridas e também para orientar melhor aqueles que vierem a praticar esse folguedo popular de extrema riqueza plástica, rítmica e musical que é o Maculelê.”

1.

(mestre)

Ô Sinhô, dono da casa, nós viemo aqui lhe vê,

Viemo lhe perguntá, como passa vosmicê

(coro)

Ô Sinhô, dono da casa, nós viemo aqui lhe vê,

Viemo lhe perguntá, como passa vosmicê

(BIS) mestre seguido do coro

(mestre) Ê, como é seu nome

(coro) É maculelê

(mestre) Ê, de onde veio

(coro) É maculelê

(mestre) Lá de Santo Amaro

(coro) É maculelê

(BIS) e repetem desde 1.

2.

(mestre)

Eu sou um menino

Minha mãe soube me educar

Quem anda em terras alheias

Pisa no chão devagar

(coro)

Eu sou um menino

Minha mãe soube me educar

Quem anda em terras alheias

Pisa no chão devagar

(BIS) mestre seguido do coro, desde 2

3.

(mestre)

Eu vim pela mata eu vinha

Eu vim pela mata escura

Eu vi seu Maculelê

No clarear, no clarear da lua

(coro)

Eu vim, pela mata eu vinha

Eu vim pela mata escura

Eu vi seu Maculelê

No clarear, no clarear da lua

(BIS) mestre seguido do coro, desde 3

4.

(mestre)

Êêêê, mas i na ora ê, i na ora á

I na ora ê, sou de Angola

(coro)

i na ora ê, i na ora á

i na ora ê, sou de Angola

(mestre)

i na ora ê, i na ora á

i na ora ê, dá licença pr’ eu passar

(coro)

i na ora ê, i na ora á

i na ora ê, sou de Angola

(BIS) desde 4

5.

(mestre)

Tê, tê, tê, olha tê, tê á,

Tê, tê, tê, Bom Jesus de Mariá

(coro)

(BIS) desde 5

6.

(mestre)

Eu vi a luta, eu tava lá

Eu vi a luta, eu tava lá

Dois guerreiros se pegando dentro do canavial

(coro)

(BIS)desde 6

7.

(mestre)

Lutava Maculelê na terra do Mangangá

Um gritava para o outro...

Tumba ê caboclo

(coro) Tumba lá e cá

(mestre) Ê tumba ê guerreiro

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Ê tumba ê Popó

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Ê não me deixe só

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Tumba ê caboclo

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Ê tumba ê Santo Amaro

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Ê tumba ê Popó

(coro) tumba lá e cá

(mestre) Não me deixe só

(coro) tumba lá e cá

8.

(mestre)

Certo dia na cabana um guerreiro

Certo dia na cabana um guerreiro

Foi atacado por u’a tribo pra valê

Pegou dois paus, saiu de salto mortal

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Mestre Caiçara (BA)

Mestre Pastinha (BA)

Mestre Waldemar (BA)

Mestre Bimba (BA)
O que é mandinga?


por Vivian Fonseca

Mandinga é sem dúvida um dos requisitos mais valorizados pelos capoeiristas das mais variadas vertentes em diversas partes do mundo. Aparecendo como um dom, não é qualquer jogador que ascende a esse patamar. Sendo assim, como definir quem a detém ou não?

Ela aparece como um elemento de diferenciação no mundo da capoeira, não sendo suficiente pertencer a algum grupo e/ ou escola para tê-la. A capoeira se coloca como uma manifestação na qual o passado, a tradição e o tempo de prática ditam a importância de determinado jogador. Por isso, usualmente, graças a essa própria dinâmica, os velhos mestres são reconhecidamente bons mandingueiros. No entanto, essa característica não é exclusiva a esses baluartes da arte. Um jovem capoeirista pode ser reconhecido pela sua “manha” e destreza no jogo e na vida. Como muitas vezes o jogo da capoeira e o jogo da vida se confundem como na famosa expressão “a vida imita a arte” e/ ou “a arte imita a vida”, quem for bom mandingueiro dentro dos limites da roda, saberá também lidar com as adversidades do dia-a-dia e se adequar tal qual a necessidade do momento. Nas palavras de diversos mestres, a mandinga aparece como uma espécie de savoir-faire que, em último grau, demonstra quem domina ou não os códigos da arte aqui tratada. Como se trata de um jogo de engano, o verdadeiro mandingueiro deve saber dissimular seus atos e intenções, fazendo dos movimentos de seu próprio corpo um mistério para seu camarada de jogo.

Como diria o sociólogo francês Loïc Wacquant, essas atividades carnais, que são ensinadas através da prática e da competência corporal só podem ser aprendidas em sua totalidade na instância última da experiência e dessa própria vivência corporal. Portanto, para viver a mandinga e compreendê-la em sua complexidade talvez fosse preciso entrar na roda. No mais, como essa possibilidade se faz distante, convido o leitor a apreciar uma compilação de depoimentos sobre, afinal, o que é mandinga?

A música;

TÍTULO : MANDINGUEIRO / AUTOR : ESQUILO (DF) A.C.A.P.O.E.I.R.A.


RITMO: S.B.MÉDIO OU S.B. GRANDE

A Ê MANDINGUEIRO

ME DIGA DE ONDE VEM

ME DIGA DE ONDE VEM

A MANDINGA QUE VOCÊ TEM

CÔRO

SERÁ QUE VEM DA BAHIA

OU VEM DO RIO DE JANEIRO

ME DIZ QUE EU QUERO APRENDER

EU QUERO SER MANDINGUEIRO

CÔRO

SERÁ QUE VEM DESSA GUIA

QUE VOCÊ TRAZ NO PESCOÇO

OU SERÁ O PATUÁ

ESCONDIDO NO SEU BOLSO

CORO

DE ONDE VEM O SEU BAILADO

E A SUA GINGA SEGURA

SERÁ QUE VEM DESSA CORDA

AMARRADA NA SUA CINTURA

CÔRO

SERÁ QUE JÁ ESTÁ NO SANGUE

OU SERÁ QUE ISSO É NATURAL

SERÁ QUE ISSO VEM DA RODA

OU DO TOQUE DO BERIMBAU

CÔRO

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Manoel dos Reis Machado, o famoso Mestre Bimba , nasceu em 1900 , no bairro do Engenho Velho de Brotas em Salvador.Tinha fortes ligações com as tradições africanas : era filho de um lutador de batuque - luta de origem africana que iria influenciar a criação do estilo regional - e tornou-se ogâ de um candomblé de caboclo.Começou a aprender capoeira aos 12 anos de idade , com um africano chamado Bentinho , capitão da Companhia de Navegação Baiana.Bimba afirmava que a capoeira tinha nascido dos negros escravos , nas senzalas do Recôncavo.Dotado de uma notável habilidade e capacidade de organização , Bimba abriu sua primeira academia em 1932 no Engenho Velho de Brotas.Conseguiu alvará de funcionamento em 1937 , data que ficou conhecida como marco da legalização da capoeira.Introduziu inovações na maneira de jogar e de ensinar a capoeira , procurando tornar a antiga capoeiragem mais eficiente e racional , atraindo discípulos de classe média , brancos e universitários.Tinha nascido uma nova tradição : a capoeira regional . Esse estilo tornou-se um esporte reconhecido e valorizado como ícone do Brasil frente às demais artes marciais e lutas estrangeiras. Apesar do sucesso crescente obtido pela capoeira , falta de apoio e recursos levou Bimba a procurar em outros lugares uma vida mais digna.Atendendo ao convite de um de seus alunos , se mudou para Goiânia onde iria morrer em 1974 , um ano depois de ter deixado a Bahia . A figura de Bimba , herói da capoeira , inspirou muitos estudos , mais de 30 livros e filmes. Apesar das amarguras e decepções no fim da vida , a semente plantada pelo mestre crescia cada vez mais : a capoeira regional , sob suas diversas formas , ganhou adeptos no Brasil e no mundo.

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No mês de dezembro de 2010 o Instrutor Paulista(ES),partcipou de vários eventos no Espírito Santo e em São Paulo.Na seguinte sequência;
Grupo Casa Brasileira (Mestre Cangurú), Grupo N'golo (Contra Mestre Paulo Renato),Grupo G.G.B.C. de Capoeira (Mestre Pantera e Mestre Cobra),Grupo 100% Capoeira de Aracruz ( Formado Macarrão,Maskara e Vovô).Parabéns!









Mestre Pantera(SP),Instrutor Paulista (ES),Mestre Cobra(SP) 

Contra Mestre Jé(SP),Inst. Duende(SP),Mestre Cobra(SP),Mestre Doril(SP),Bahiano(SP),Dez(SP),Prof. Mineiro(SP)

Inst. Paulista(ES) e Mestre Cangurú(SP)

Contra Mestre MI(SP),Mestrando Wilson (SP),Mestrando Panda(SP),Inst. Testa (SP) , Inst.Paulista(ES)


Contra Mestre Paulo Renato (SP) e Inst. Paulista (ES)

Mestre Lobão(SP),Mestre Flávio(SP),Mestre Dionísio(SP),Mestre King (RJ),Mestre Kall(DF), e outros

Inst.Paulista(ES) e aluno

Formados Val Macarrão,Maskara,Vovô de Aracruz (ES)

A galera de Aracruz (ES)




Instrutor Paulista(ES) e Mestre Pinati (SP)






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A capoeira é uma arte multidimensional, o que significa dizer que é ao mesmo

tempo dança, luta, jogo e música. Estes múltiplos aspectos se desenvolvem na roda, um

ritual criado pelos capoeiristas que encena, por intermédio da performance corporal e

rítmica, o movimento da grande roda do mundo.

Não se sabe ao certo quando e como surgiu, o fato é que a roda se desenvolveu e se

tornou expressão própria da capoeira a partir da Bahia. Atualmente, é uma manifestação

popular que se encontra disseminada nos cinco continentes, difundida pelos mestres em

suas errâncias e organizada por pessoas de diversas nacionalidades que praticam o jogo

Apesar de sua atual popularidade a capoeira nem sempre gozou da mesma simpatia

do público e nem mesmo as rodas eram a principal expressão da arte. No Rio de Janeiro do

século XIX, os capoeiristas (ou capoeiras) se reuniam em grupos conhecidos como maltas e

eram duramente perseguidos, principalmente com a abolição da escravatura e a

proclamação da República, quando o jogo foi inserido no Código Penal Brasileiro através

do decreto de 11 de outubro de 1890. De acordo com o artigo 402, se tornou crime “fazer

nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecidos pela

denominação de capoeiragem”.

Na capital baiana o jogo era mais tolerado. Um dos motivos é que não havia naquele

estado uma lei que criminalizasse sua prática, o que pode ter contribuído para o

desenvolvimento das rodas como ritual que engendra uma série de significados lúdicos,

simbólicos e mítico-religiosos.

Em Salvador, apenas nos anos 1920, o jogo, assim como os candomblés, sofreu

maior perseguição, comandada pelo temido Pedro Gordilho, mais conhecido como Pedrito,

chefe de polícia do Esquadrão da Cavalaria. No território baiano, as rodas se tornaram

famosas como lugares de “vadiação”, brincadeira e lazer. Espaços não apenas do jogo, mas

também do aprendizado, afinal, quando se joga também se aprende. Por isso alguns mestres

ainda mantêm o antigo hábito de passar lições durante o encontro na roda. Junta-se a isso

sua característica semi-religiosa, principalmente nas práticas tradicionais, intimamente

ligada à tradição de oferecer comida após a roda, momento de celebração da sociabilidade

e, muitas vezes, de oferenda aos orixás e santos católicos sincretizados pelos devotos.

Religião, comida e celebração são elementos presentes nas festas religiosas que

ocorrem em largos próximos às igrejas católicas. Nestes lugares, as rodas de capoeira se

tornaram comuns, o que mostra sua integração com o ambiente da cultura local e, ao

mesmo tempo, sua afinidade com os cultivos religiosos.

Os capoeiras antigos sempre estiveram cercados de uma mística sobrenatural.

Usavam patuás – amuletos que continham orações e os protegiam dos perigos – e eram

reconhecidos como mandingueiros. Os mandingas, ou malinquês, habitavam o reino do

Mali e foram convertidos ao islamismo no século XIII, mas permaneceram conhecidos

como detentores de crenças e tradições fetichistas associadas à feitiçaria. Por isso os patuás

também eram conhecidos como “bolsas de mandinga”.

O profano, é claro, também faz parte da roda. Os capoeiras “vadiavam” em frente aos

botequins, onde realizavam a brincadeira ao mesmo tempo em que se serviam de goles de

cachaça, muitas vezes oferecida pelo dono do estabelecimento como contrapartida pelo fato

de o jogo atrair curiosos e, conseqüentemente, fregueses para os estabelecimentos. Aos

domingos, vestiam um terno branco que chamavam de “domingueira”. Era a roupa da

missa e do passeio, guardada para esse dia especial e cuidadosamente alinhada. Com este

traje jogavam no chão de barro vermelho e nunca se sujavam. Permaneciam limpos e

elegantes como se tivessem acabado de sair de casa.

Curiosamente, a roda nem sempre acontece em forma de círculo. Nas comunidades

pobres da Bahia, os mestres costumavam erguer “currais” retangulares de madeira para a

realização das rodas sob as vistas dos que se apoiavam no cercado. Nessa época, anos 1940,

os capoeiristas já se organizavam em grupos uniformizados com camisas de times de

futebol, e atraíam não apenas os moradores das comunidades, mas também intelectuais e

artistas.

O crescente interesse de um público que não se restringia aos praticantes da arte fez

com que as rodas de capoeira também se tornassem locais de mediação, espaços espaços

onde mundos até então distantes entram em contato, estabelecem negociações e promovem

estratégias de resistência. Mestre Valdemar organizou, entre os anos 1940 e 1970, uma roda

importante na Liberdade, bairro operário de Salvador, que acontecia também cercada por

um curral de madeira e debaixo de um teto de palha. Uma arquitetura básica para o lugar

que ficou famoso como o “Barracão do mestre Valdemar”, onde se reuniam nomes

lendários da capoeiragem baiana, como Traíra, Espinho Remoso, Antônio Cabeceiro, João

Grande, e intelectuais como Carybé, Jorge Amado, Eunice Catunda, Mário Cravo e Pierre

Verger.

O mesmo acontecia nas rodas dos espaços formais da capoeira: as academias que

começaram a surgir nos anos 1930. Jorge Amado, por exemplo, também freqüentava a

escola de mestre Pastinha, principal organizador da capoeira angola. Mestre Bimba, criador

da capoeira regional, se apresentou em 1954 para o governador da Bahia, Juracy

Magalhães, e para o presidente da República, Getúlio Vargas, o qual, na ocasião, conforme

se tornou célebre, afirmou que a capoeira era o “genuíno esporte nacional do Brasil”.

Apesar dessa afirmação, as identidades nacional e africana da capoeira permanecem em

disputa, representadas por diferentes mitos de origem e dramatizadas nas rodas por meio

dos cantos, movimentos e instrumentos.

As apresentações das rodas, por atraírem um público maior, transformaram-se em

importante meio de divulgação e desmarginalização da arte. No entanto, a capoeira se

desenvolveu em espaços sociais que, embora pouco privilegiados, garantiam o ambiente

necessário a sua prática.

A área portuária, reduto de negros estivadores e pescadores, foi um dos principais

espaços de desenvolvimento da “vadiação”. O porto simboliza a ligação da capoeira com o

mar, reminiscência da travessia do Atlântico feita pelos africanos escravizados e trazidos

para o Brasil.

As antigas cidades portuárias brasileiras, como Salvador, Rio de Janeiro e Recife,

receberam grandes levas de africanos e desenvolveram uma cultura local fortemente

marcada pelas tradições negras. A capoeira, nessas cidades, possui uma história que

atravessa a época colonial, o fim do Império e Primeira República, e permanece como

manifestação cultural emblemática de seus respectivos estados.

Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco foram berço de capoeiras que se tornaram

míticos, mas em solo baiano ganhou importância e destaque o ofício do mestre, figura

fundamental para a realização das rodas. Detentor do saber, é ele quem articula o ritual,

mantém a tradição, transmite o ensinamento, promove recriações, invenções e atua como

principal mediador entre a arte e a sociedade formal.

O mestre de capoeira organiza a roda como espaço de uma performance que se

mantém como legado de práticas de sociedades tradicionais africanas que se enraizaram no

Brasil, se corporificaram por meio dessa luta que se dissimula em dança e que foi

fundamental para a resistência escrava no período colonial, permanecendo como importante

referência da cultura negra.

As tradições corporais africanas se desenvolveram no Brasil marcadas pelo contexto

local. A capoeira, portanto, surgiu a partir de rupturas e continuidades que se deram no

novo continente. Uma memória do corpo, perceptível na seleção e atualização das práticas

rituais, cuja complexidade se manifesta na roda de capoeira, uma forma de expressão que se

articula às muitas identidades de brasileiros e estrangeiros nos cinco continentes.

Atualmente a capoeira está vivendo um momento marcante de internacionalização e

globalização Uma nova “diáspora”, que levanta uma série de questões importantes,

envolvendo discussões sobre políticas públicas, patrimônio, identidade e tradição em um planeta marcado por uma modernização vertiginosa.



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Mestre Capixaba com a corda vermelha do Clebão

Mestre Capixaba(ES) entregando a corda vermelha para Clebão

Mestre Clebão mostrando sua nova corda

Mestre Clebão(ES) recebendo o beijo de sua esposa Maria Luiza

Mestre Hulk(RJ) e Mestre Clebão(ES)

Mestre Catitu(SP) e Mestre Clebão(ES)

Mestre Capixaba(ES) e Mestre Clebão(ES)

Mestre Gororoba (RS) e Mestre Clebão (ES)
No dia 22 de janeiro de 2011, Clebão recebeu a corda vermelha do Mestre Capixaba no CENTRO CULTURAL TEODORINHO TRINCA FERRO em Itaúnas,Conceição da Barra -ES.

Cleber Alves Bernardo da Silva, nascido em 04/02/1975 na cidade de Nanuque(MG), agora Mestre Clebão.

Seu primeiro contato com a capoeira foi em 1983 em uma roda de rua com o falecido mestre Helio. No
fim dos anos 80 foi morar em salvador BA, onde conheçeu a capoeira angola, a qual treinou por 2 (dois) anos.

Posteriormente, por intermédio de um amigo de infância, voltou a praticar a capoeira regional.

Morou na Inglaterra por 17 anos, onde ministrou aulas de capoeira em diversas cidades e academias.

Viajou por toda Europa e Oriente Médio, divulgando a nossa capoeira.

Em 2005 voltou para o Brasil. Hoje tem um trabalho nas escolas da rede municipal da cidade de
Montanha - ES onde, através do "Projeto Vida", atende cerca de 400 crianças e adolescentes carentes e em risco social.


Parabéns Mestre Clebão !!!

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