"Amigos o corpo é um grande systema de razão,por detraz de nossos pensamentos acha-se um senhor poderoso, um sábio desconhecido...”.Mestre Pastinha expressava nesses termos um pouco da sua filosofia sobre o que era capoeira:uma aprendizagem corporal e ao mesmo tempo espiritual,uma iniciação ao conhecimento.Contava que ainda criança aprendeu capoeira com um africano chamado Benedito para defender-se de um menino que sempre procurava briga com ele. Mais tarde, ele viria ser a maior referência entre os angoleiros, pois formou inúmeros mestres de renome e grupos que se identificam como descendentes da sua linhagem. Sua filosofia fundamenta as práticas e os valores desses grupos que se espalharam pelo Brasil e pelo mundo a partir dos anos 80, disseminando a capoeira angola como herança africana. Vicente Joaquim Ferreira Pastinha, nascido em Salvador,em 1889, era filho de um espanhol e de uma negra de Santo Amaro da Purificação. Ingressou na Companhia de Aprendizes de Marinheiro em que chegou a ensinar capoeira para seus colegas. Era pintor, mas também exerceu outras atividades como pedreiro, engraxate, entregador de jornais e até leão de chácara. Em 1941,fundou o Centro Esportivo de Capoeira Angola,no Largo do Pelourinho,onde desenvolveu um trabalho de revitalização da capoeira angola,segundo ele,a legítima capoeira trazida pelos africanos.A capoeira ensinada por mestre Pastinha atraiu a admiração de grandes intelectuais,como Jorge Amado,Pierre Verger e Carybé seduzidos pela musicalidade, o ritual da roda e a mandinga dos jogadores. Morreu na miséria e no esquecimento aos 92 anos, deixando um legado cultural incomparável – manuscritos,cantigas,desenhos, e mais do que tudo, ensinou que a capoeira é um instrumento de luta pela liberdade.