Posted by ACAPOEIRA | quinta-feira, 14 de julho de 2011 | 1 comentários

Prof. Pardal/SP e Mestre Capixaba/ES

Prof. Pardal /SP e Ferrugem /ES no Festival de cantigas de capoeira em Itaúnas/ES 2010



A palavra Mestre nos dias de hoje tem sido usada com muita freqüência nos grupos de capoeira, sendo que, infelizmente, algumas pessoas abusam, brincam de ser Mestre e também fazem da capoeira motivo de desânimo para outras pessoas. Eu em particular só me refiro a Mestre àquele que eu o considero e que mereça ser chamado pelo titulo que carrega.

Como diz a ladainha do Mestre Natanael “é o tempo que te faz mestre não um diploma que comprou”. Antigamente o tempo, a experiência, a malandragem, a mandinga, o conhecimento, a maturidade eram aspectos e qualidade das quais um capoeirista precisava para ser reconhecido e receber um titulo de Mestre, titulo esse que na maioria das vezes eram dados pela a comunidade capoeirística.

A capoeira nos tempos de Mestres tais como Bimba, Pastinha, Waldemar, Traíra, Aberre, dentre outros, era aprendida nas rodas, nas ruas; a experiência e o conhecimento eram passados de Mestre para discípulo onde o capoeirista fazia valer o titulo que carregava junto ao seu nome.

Certa vez ouvi um homem muito sábio dizer que o papel de um Mestre era mostrar o caminho para outras pessoas, aqueles que o seguiam e buscavam aprender de seu conhecimento na arte de mandingar. Com a modernidade do mundo a capoeira também virou alvo de aproveitadores, parlapatões, que se auto intitulam Mestres, Professores, Contramestres, Mestrandos, sem ao menos terem conhecimento, maturidade, vivência, além de um Mestre de verdade que o tenha formado. Na vontade de serem donos de grupos, fazem de tudo para carregar um titulo do qual outros estão a muito tempo correndo atrás e ainda não o possuem. Muitos Capoeiristas usam corda de Mestre mais na verdade não o são, enquanto que, por outro lado, outros que não usam essa corda possuem muito mais qualidade e postura de Mestre.

Na responsabilidade e no cuidado com a capoeira, em minha concepção, um grupo deve ser formado e conduzido por experientes capoeiristas, compromissados com o fundamento, com a música, com a história, em manter acesa a chama da luta e até mesmo manter a tradição do uniforme branco, visto que existem grupos que usam uniformes coloridos e de várias formas; nada contra, somente entendo que a capoeira tem tradição e isso não pode acabar, devendo ser valorizado e cuidado.

Esses tais parlapatões aproveitam as passagens promocionais aéreas e vão para outros países na iminência de poderem usar a capoeira como meio de ganhar dinheiro, carregando a vaidade sempre vai junto com as suas bagagens; não esperam o tempo certo e no intervalo entre a entrada no avião e a chegada em seu destino acabam, não se sabe como, formados Mestres.

Ando presenciando tantas coisas, neste sentido, que acabo sentindo compaixão da capoeira. Percebo que o aparelho de DVD também forma Professores, Mestres, Mestrandos etc, pois muitos deixam de treinar com um Mestre para montar seu próprio grupo, praticando em cima de vídeos, se esquecendo que, na verdade, o vídeo não corrige, não pega na sua mão, o que leva à simples cópia dos movimentos assistidos, apenas improvisos repentinos do jogo e, em seguida, quando o mesmo sente vontade e se acha “pronto” para se formar, o faz por “conta própria”, paga outro Mestre para lhe entregar uma graduação, muitas vezes somente pelo dinheiro. Trata-se de uma prática absurda, uma espécie de prostituição na capoeira.

Por falar em aproveitadores quem deu autorização ao formado em Educação Física para ministrar aulas de capoeira sem ter formação capoeirística? A formação de um professor de Educação Física leva de 4 a 5 anos, enquanto que a de um professor de capoeira no mínimo 15 anos, o que deveria ser observado, visto que, não raro, um capoeirista profissional, experiente e com condições de levar à frente um trabalho perde para um diploma.

Também não tem sentido um Mestre formar alunos de outro, isso é incompreensível, pois não basta somente entregar a corda na mão, é preciso conviver com seu Mestre, trocar experiências e vivenciar seus ensinamentos.

Existe também os chamados grupos “Marinheiro Só”, aquele grupo de cinco ou 10 pessoas que sempre estão participando de eventos, mas muitas vezes sempre do lado de fora olhando, e no final tirando fotos com os Mestre renomados e colocando nos sites sociais para parecerem importantes e viajados. Os capoeiristas de verdade e os Mestres não devem e não podem se agachar para que pessoas mal intencionadas denigrem a imagem da capoeira.

Causa-me tristeza quando me deparo com pessoas pirateando material de outros colegas que em meu entendimento é uma forma de prejudicar um colega. Alguns montam verdadeiras barracas de venda de pirataria da capoeira e ainda entregam um cartão escrito “MESTRE” FULANO, não imaginando o quão é difícil para se executar a gravação de um CD, de um DVD, de livros etc. Este pseudo Mestre, acredito, nunca deve ter realizado um evento grande, ou ter feito alguma coisa em prol da capoeira, nenhuma obra literária ou até mesmo com a parte musical. Ele não imagina que aquele material pirateado está tirando o ganha-pão da pessoa que empregou seu tempo, talento, dinheiro e conhecimento para poder tornar realidade aquele trabalho. Realmente isso é muito triste, feio e, acima de tudo, desonesto!

Quer ser Mestre? Então procure um Mestre de verdade, treine, viaje, pesquise, lute se precisar, conheça e seja conhecido, seja um discípulo, tenha índole, caráter, compromisso, bom trabalho, dedicação, honestidade. Quer vender CD? Então grave um! Quer vender DVD? Faça um grande evento e venda o seu próprio material.

Assim sendo, concluo minhas ideias deixando as questões levantadas como reflexão, fazendo um chamamento para que os verdadeiros capoeiristas se debrucem sobre o verdadeiro caminho do Mestre e sempre buscando prevalecer o conhecimento a entrega o amor pela arte e luta que todos nós capoeiristas amamos de todo coração. O poder é um atributo dos viventes, mas emana dos antepassados. Os que forem mais fiéis aos antepassados e seus pactos com a terra alcançarão mais prestígio diante da comunidade. O poder é um exercício calcado na tradição para garantir o bem-estar para a sociedade. [...]. O poder, portanto, é um instrumento da tradição dos ancestrais para perpetuar no ayê a ordem do sagrado e a moralidade dos ancestrais. (OLIVEIRA, 2003, p. 60).

Fonte: Professor Pardal  da  A.C.A.P.O.E.I.R.A.

One Response so far.

  1. Muito bacana o texto! Mestre é aquele que tem conhecimento e reconhecimento...

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