PROFESSORA BAIXINHA DANDO AULA DE CAPOEIRA
A capixaba e capoeirista Alessandra dos Santos é um exemplo de superação e solidariedade. Nascida em 1981 em Vila Velha e moradora de Cariacica desde criança, sua vida foi marcada pela capoeira, esporte pelo qual começou a se interessar ainda adolescente, com mais ou menos 15 anos e desde então não parou mais de praticar.
A professora Baixinha, como é mais conhecida, conta que seu primeiro contato com a capoeira foi na escola onde estudava, em Cariacica, “foi amor à primeira vista, eu me encantei totalmente”, ela diz com brilho nos olhos. Nessa escola quem dava as aulas era o professor Baiano, que era aluno de Mestre Capixaba.
Os pais, ambos aposentados, hoje apóiam a filha que faz do esporte a sua profissão. Porém nem sempre foi assim. “No começo meu pai tinha um certo preconceito. Achava que era um esporte para homens, mas hoje ele aceita e tem muito orgulho do que eu faço”. Já a sua mãe sempre esteve ao seu lado em todos os eventos, desde seu batizado na capoeira aos festivais de que participou e foi campeã. Baixinha já tinha a capoeira como sina e experiência.
Formada em Pedagogia e pós-graduada em Psico-pedagogia, ela conta que conseguiu ingressar no curso superior graças à capoeira. “Eu desenvolvi um projeto de capoeira para a faculdade e consegui uma bolsa de estudos”, diz. A formação acadêmica se mostrou muito importante para a capoeirista ao longo desses anos. “O curso me ajudou a entender mais o aluno e a compreender as fases de desenvolvimento das crianças”.
Mesmo com a correria do dia-a-dia, trabalhando e estudando, Baixinha não deixou de treinar e de tentar ajudar crianças carentes por meio da capoeira. Ela é umas das idealizadoras do projeto Recanto de Atendimento ao Menor (Reame), em Cariacica, onde começou a trabalhar como voluntária em 2002.
O Reame oferece atividades como capoeira, música, teatro, informática, em horários alternativos ao das escolas, para as crianças da comunidade. Além disso lá também é servido café da manhã e almoço. “É uma forma de manter as crianças fora das ruas e assim longe das drogas e da violência”, explica Baixinha.
Outro projeto parecido com esse no qual Baixinha também atua é o Semeando Arte nas Escolas (Semearte), que pertence a Secretaria de Educação de Cariacica. Ali a capoeirista começou a trabalhar em 2006. Atualmente ela atende três escolas municipais oferecendo aulas de capoeira.
“Além desses alunos eu também atendo a comunidade, então tem mães que fazem capoeira, filhos praticando junto com os pais”, diz a professora. O projeto Semearte inclui diversas atividades culturais como dança, bandas marciais, teatro. Também na cidade onde vive, Baixinha ensina capoeira na Obra Social Cristo Rei, que era um antigo orfanato e agora atende crianças em risco social.
Segundo Baixinha, a capoeira ajuda na socialização, no desenvolvimento motor e na questão da disciplina. “Tenho vários alunos que eram rebeldes e não respeitavam os pais e ao se interessarem pela capoeira melhoram o comportamento, não só no âmbito familiar, mas no âmbito social e escolar também”. Apaixonada pelo oficio, a professora explica que a capoeira trabalha o corpo, a alma e a mente, além de promover a inclusão e igualdade social, “porque na roda de capoeira todos são iguais”.
“Eu vivo da capoeira”, diz, com animação. Baixinha tem uma faixa de 900 alunos e alguns deles já foram campeões, outros, assim como ela, conseguiram bolsas de estudos e alguns já receberam a corda azul de instrutores - e agora são professores. “Meu objetivo com esses projetos é oferecer a essas crianças e adolescentes, que às vezes não tem oportunidade, a chance de gerarem renda por meio do esporte e assim ajudarem as famílias”, declara, orgulhosa.
Também com a intenção de transformar vidas, o seu mais recente trabalho Gingando Pela Paz, foi contemplado pelo edital do Programa Rede Cultura Jovem. O projeto oferecerá oficinas que acontecerão no Centro Educacional Reame: aqui, a capoeira será levada para além das rodas e será montado um espetáculo cultural.
Muito falante e simpática, Baixinha comenta do grupo do qual faz parte: Acapoeira, que tem aproximadamente cinco mil integrantes e é coordenado pelo Mestre Capixaba. A professora de capoeira, corda marrom e 2º. Lugar, na sua categoria, no Terceiro Encontro Internacional e Jogos Abertos de Itaunas da Acapoeira deste ano, diz que deve muito ao esporte. “Hoje a capoeira, juntamente com Deus, é minha vida”.